terça-feira, 11 de maio de 2010

Somos os sócios de um seleto Clube

Existe uma tendência tecnicista, uma visão determinista de que a tecnologia trará sempre e somente benefícios no seu trajeto. A tecnologia da informação traria benefícios para todos. Mas a exclusão está emparedada por fatores como educação, renda, decodificação dos códigos, infraestrutura de informação entre outros. A inclusão depende, também, do indivíduo ter condições cognitivas para se apropriar da informação recebida, em qualquer formato, e usá-la em seu proveito e para seu desenvolvimento.
Pela facilidade disponibilidade e de acesso à informação em formato digital tem um ambiente que facilita a inclusão pelo acesso e potencial uso dos conteúdos em acervos eletrônicos. Mas este esforço para aumentar a inclusão não pode ficar restrito a preleção de uma política. O discurso lançado e mediado pela informação não se transforma, sem intervenção, em um programa dinâmico. O discurso em si é só uma peça a mais de informação, que fica sempre no espaço da esperança, de uma promessa que é escrava das palavras. Discursos só se realizam nas ações que se orientam por uma premissa prática, uma racionalidade finalista. "Os discursos mentem, ou jamais conseguem dizer suficientemente claro.....É uma representação, eficacíssima, de como através de sucessivas interpretações uma mensagem é desconstruída e levada a exprimir somente aquilo que o emitente queria dizer...." [Umberto Eco, Entre a mentira e a Ironia]*
Um recente artigo de jornal do Rio de Janeiro trouxe de volta a lembrança do discurso contido no programa da "Sociedade da Informação no Brasil" que defende a universalização do saber para todos. Mas um indicador de enorme complexidade nos mostrou no último Censo que a "taxa percentual", da nossa população que possui 14 anos de estudo - o segundo grau completo - é de cerca de 15 % da população; isto é somente 15 % da população teriam com o 2º grau melhores condições para traduzir a informação recebida em conhecimento inovador.
Estes são dados do censo de 2000 e, em números absolutos, a quantidade de pessoas modificou muito nos últimos dez anos, mas a "taxa de 15 %" representa uma relação e é uma barreira conjuntural não resolvível rapidamente no médio prazo. Nestes dez anos estaria, acredito, no entorno de 15 a 20 por cento. Se aplicada esta taxa teríamos hoje um grupo pequeno de pessoas em condições adequadas para usufruir plenamente do conhecimento gerado pelos estoques de informação institucionalizados e disponibilizados no país.
Também, em abril de 2010 um novo dado importante* nos mostra que dos 5.500 municípios do Brasil só 1.200 tem suas bibliotecas municipais* conectadas a Internet, mesmo assim ligadas com uma infraestrutura de acesso lenta e inadequada. Assim a realidade nos obriga a ver a exclusão informacional além do discurso. Ela mostra que não estamos sequer perto de uma sociedade da informação universal seja ela digital ou não. Existem os afortunados da banda larga, os que finalizaram uma universidade habitando um seleto "Country Club" da informação.
Estas evidências ou tendências deveriam pautar a agenda de reflexão e as ações de todos aqueles envolvidos com as práticas da informação: os formuladores de políticas, os profissionais da área, mestres, alunos e as sociabilidades de convivência em rede.

(AAB)

também em http://aldobarreto.wordpress.com/


Notas (*)

- Umberto Eco, Ente a mentira e a ironia, Ed. Record , Rio de Janeiro, 2006

- Censo das Bibliotecas Públicas Municipais, Ministério da Cultura (MinC), abril 2010

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